Edson Struminski (Du Bois)
É um destes fins de semana ensolarados no Anhangava, nosso campo escola de montanhismo. No sábado uma garota conhecida me vê e pergunta por que estou escalando com corda pois “normalmente eu só vejo você solando”. Expliquei a ela que não existe um “normalmente eu solo”, que estávamos em um campo escola e por isto qualquer modalidade é válida: com corda, sem corda, top hope, em solitário, em dupla, em três, em móvel, com mochila, de dia, de noite, escalar e desescalar, com sol, com chuva. “Com chuva?” ela me pergunta meio espantada. “Sim, com chuva”, respondo, “é possível fazer vários tipos de vias mesmo embaixo do maior pé d´água, ou mesmo à noite”. Expliquei a ela que era preferível fazer isto ali, a poucos minutos da base da montanha do que ter de aprender o que era escalar no molhado ou no escuro no meio de uma escalada maior, em um lugar remoto. Dito isto fui fazer uma via em top com ela.
Geralmente ao final deste tipo de diálogo, que, aliás, não é novo para mim, percebo que a maioria das pessoas aproveita 10 por cento do potencial de um campo escola como este. A criatividade não é o forte do pessoal e muitas vias ou situações de escalada potencialmente interessantes são negligenciadas simplesmente porque “não estão no guia”, ou no cardápio normal utilizado. De minha parte entendo que criar ou enfrentar situações novas aumenta a nossa segurança em andar em ambientes de montanha.
Mais tarde, um rapaz, um pouco pesado, está guiando uma via ao lado da que estou fazendo em solitário. A via dele tem um teto “psicológico”, é uma espécie de teste para novatos pois tem um acesso difícil em regletes e a passagem do teto é desajeitada. Ele acaba não passando e decide fazer rapel em uma chapeleta. Imediatamente me vem à cabeça uma historinha como aquelas do livro de Pit Schubert (1), “Seguridad e risco em montaña” (que todo montanhista ou pretenso montanhista deveria ler, pelo menos uma vez na vida) ou seja, daqui a seis meses alguém iria cair naquela corda e ela se romperia exatamente no local onde ela tinha sido apoiada na chapeleta, uma lâmina, se é que ela não poderia romper ali mesmo, naquele instante, na minha frente. Com esta história na cabeça acabei convencendo ele a colocar costuras na chapa. Eu mudaria minha rota para a do teto e devolveria o material dele depois. Me ocorreu de fazer isto apenas para evitar um possível acidente.
No dia seguinte, um domingão do Faustão, subo cedo e faço mais algumas vias, em solitário ou em solo. Mais tarde cruzei com alguns membros do Cosmo, que é o corpo de socorro em montanha do Marumbi e subi em direção a um setor mais próximo do cume da montanha, longe do burburinho. Quando o sol começou a pegar baixei para o setor mais concorrido do morro para completar meus duzentos metros e ir para casa. Já havia me esquecido do incidente do dia anterior.
Cruzo com um grupo festivo de rapazes e moças de um clube de montanhismo aqui do Paraná. Reconheço algumas pessoas do grupo e os demais me pareciam visitantes. Sou apresentado e uma das meninas do grupo deduz que eu sou “o homem que sola”.
Eu sempre acho engraçado quando alguém de forma espontânea e inocente coloca um código de barras em você. Não há nada de errado nisto e até pensei em explicar a ela que não existe um “normalmente eu solo”, que estávamos em um campo escola e por isto qualquer modalidade é válida: com corda, sem corda, top hope, em solitário, etc, etc, etc, mas naquela hora do dia e naquele lugar quente eu estava sem muita disposição de falar a mesma coisa e acabei não comentando nada (francamente, será que eu deveria gravar esta resposta?).
Escapei para uma sombra, fiz uma nova via, desci e vi uma cena estranha. O filhotão de urubu que estava no ninho dele em cima das paredes agora estava embaixo, devorando uma carniça qualquer que o papai tinha caçado para almoço, moscas varejeiras, etc. Bom uma cena normal na vida deles, mas como o papai estava hostil eu caí fora dali.
Quase imediatamente, a uns 15 metros abaixo de mim passa o tal grupinho festivo e saltitante e eis que uma das integrantes do grupo cai em um buraco e some em meio ao bambuzal. Como não houve gritos do gênero “socorro estou quebrada”, o clima festivo do grupo não mudou e com isto a reação das pessoas foi lenta, descoordenada. Assim, ao contrário do dia anterior, onde eu tive uma postura decidida no sentido de evitar um possível acidente eu senti que não havia, até então, acontecido nada de muito grave e preferi me manter como observador exatamente para perceber a reação das pessoas, pois este tipo de situação, observar as pessoas, sempre tem um alto valor didático.
Como era um grupo grande não haveria dificuldade em descer uma corda e cadeirinha até o buraco e resgatar a pessoa que lá estava, ou mesmo em descer alguém até lá se fosse necessário. Seria o procedimento mais seguro, mais adequado, porém, os rapazes, com a corda no ombro, ficaram meio aparvalhados, rindo da situação e sem saber o que fazer. Na verdade não ocorreu a ninguém um procedimento básico neste caso que é pedir silêncio e uma pessoa, apenas uma pessoa, conversar com a vítima, perguntar como a vítima estava se sentindo e depois transmitir segurança e calma, explicando o que eles iriam fazer para resgatá-la.
Diante do impasse e no meio da algazarra, uma das garotas resolveu temerariamente entrar no bambuzal e ir atrás da colega e, com isto correr o risco de ficar presa ou de trombar com uma cobra no trajeto. Estes tipos de situações podem simplesmente ocorrer, o resgatador bem intencionado vira uma nova vítima. Felizmente depois de algumas atribulações as duas conseguem sair do buraco, a que caiu com cabelos desgrenhados, cara assustada. Uma terceira garota do grupo ainda me convidou para comer frango na cidade, mas eu agradeci e recusei. O grupo desceu fazendo barulho para comer o tal frango.
No dia seguinte uma das pessoas que participou do episódio me mandou um email comentando sobre o acidente. Como eu já havia emprestado o livro do Pit Schubert a esta pessoa, os comentários dela me pareceram fora de propósito, fiquei sem jeito de responder, talvez a pessoa não tenha lido o tal livro, desprezado a informação, o alerta que eu tinha tentado passar a ela através deste livro, que é algo que é necessário quando se anda na montanha.
Acidentes não acontecem por acaso e dificilmente são por uma causa única. Um grupo um pouco grande demais, um pouco despreparado demais, um pouco displicente demais, andando em um trecho um pouco mais perigoso que o normal, em um pedaço da trilha que não tem o mesmo nível de conservação da trilha normal. E se você quiser prestar atenção no seu instinto: urubus, cosmos, um quase acidente, a coisa toda estava no ar.
Eu peço desculpas às pessoas que estavam lá naquele momento por eu não ter me manifestado e participado deste resgate e que neste momento estão lendo este artigo. Já fiz dezenas de resgates e na verdade eu também preciso saber um pouco mais da qualidade das pessoas que andam nas montanhas, eventualmente com quem se pode contar quando alguma necessidade mais grave acontece. Muitas vezes se você interfere em uma situação destas, que foge do cardápio normal, as pessoas perdem a iniciativa, a chance do novo, que era o que estava acontecendo ali com eles. Também confesso que não me aproximei do grupo porque o comportamento deles até o momento, inclusive naquela situação mais crítica, estava sendo muito vulgar e, confesso que me espantei com toda aquela vulgaridade, inclusive porque conhecia algumas pessoas no grupo, sei que fazem parte do tal clube, etc. infelizmente eu não me sinto muito à vontade em situações de muita vulgaridade.
Certamente eu teria feito um intervenção neste acidente se houvesse qualquer remota possibilidade de complicação, como aliás tinha feito no dia anterior, onde havia um alto potencial de acidente. Na verdade tudo não passou de trapalhadas, destas que todo fim de semana acontecem em algum lugar nas montanhas. Se alguém tivesse filmado as cenas que eu presenciei, elas teriam sido dignas destas vídeocassetadas que aparecem na TV. Mas foi apenas mais um fim de semana nas montanhas do mundo, destes de suspirar de alívio quando acabam…
(1) SCHUBERT, P. Seguridad y riesgo, análisis y prevención de accidentes de escalada. Madrid, Ed Desnivel. 1996.
Bom.. O que posso dizer destas rudes, ou diria, conservadoras palavras?
Uma vez que fui eu a menina que o incomodou com a frase “o homem que sola”, estou aqui para manifestar-me e lhe contar que a intenção era apenas elogiá-lo. Primeiro, por ter ouvido falar de sua pessoa como um grande escalador, de nível muitíssimo elevado e muito competente, em toda e qualquer modalidade de montanhismo e escalada. Segundo, porque uma grande amiga sempre o elogiou muito também como pessoa, transmitindo um certo carinho, que inclusive passei a ter de uma pessoa que até então não conhecia!
E ao conhecê-lo, lendo um pouco de seus pensamentos, posso dizer-lhe que realmente há certas idéias que ficam melhores e mais belas no pensamento, que quando a impressão passa a ter forma e fundamento, muitas vezes a forma se desagrega!
E o que falar sobre a minha ignorância como montanhista-farofeira?
Te digo apenas que o maior ignorante é aquele que acha que já aprendeu tudo!
Sobre o super resgate?
Apenas que independente de qualquer eventual imperfeição, ou das risadas dos que não estavam atuando no momento, a situação estava sobre controle, de tal maneira que você continuou tranqüilizado em seu trono de observador!
Sobre a festividade?
Seriedade e serenidade são tão essenciais quanto um pouco de burburim, num domingo tranqüilo, vez que não haviam demais escaladores necessitando de silêncio ao nosso redor!
Sobre o frango e a farofa? Sobre a vulgaridade??
Que aquele que não pretende ser rotulado, que não rotule! Ademais… Se for para ter rótulos, acho que “o homem que sola”, talvez, só talvez, soe melhor que a galera festeira, farofeira e vulgar!
Muitas vezes temos que nos atentar ao que nos incomoda, a fim de descobrirmos mais sobre nós mesmos e não cometer o mesmo erro em maior proporção!
Desculpe-me se lhe incomodei! Se o grupo lhe incomodou! Mas, infelizmente para você, vivemos numa sociedade, numa grande comunidade, e nem todas as pessoas são iguais, pensam igual ou agem igual! E nem por isso algumas são mais ou melhores que as outras! Tem mais ou menos direito de exercer seu livre transito pelas montanhas ou quaisquer lugares! Mais ou menos direito de ser feliz, de fazer o que gosta e da forma que lhe convém! O que muda é apenas o nível de experiência e talvez profissionalismo! Mas a consciência ambiental e pela segurança, não se preocupe, ela esta latente em cada integrante do grupo que ali estava!
É engraçado conhecer alguém que se visualiza muito evoluído e não suporta as diferenças! Conhecer um grande montanhista, que não quer transmitir o conhecimento, mas adora criticar! Não quer ter contatos e lambusa-se de preconceito, inflando-se de orgulho pela própria mediocridade, achando que pequenos e limitados são os todos demais!
Ass. A forofeira vulgar!
Texto enfandonho. Nem merece comentário.
LEGAL! MEU COMENTÁRIO ESTA ESPERANDO MODERAÇÃO… MAS ATÉ QUANDO??? rs.. Gostaria q ele fosse publicado em sua página, como resposta!
Obrigada!
[…] escândalos como se estivessem em um parque de diversões, enfim…não deixe de ler o texto clicando aqui. Nenhum Comentário até o momento Deixe um comentário Feed RSS dos comentários deste […]
Existe uma relação direta entre idade física, do corpo ou cronológica, e idade mental, que se chama maturidade. Teve ocasiões em minha vida em que era permanentemente um chato, um mala como costumam dizer, fazia criancices, não interpretava e não respeitava o espaço alheio…! Mas quem nunca foi assim, não é mesmo? No auge dessa minha volúpia pueril e infantilista, a memória me trai, mas foi lá pelos meus 15 anos de vida.
Depois daí tive umas recaídas, rs, momento em que estava mal amado de corpo, mente, espírito e de pessoas ao redor, coisa passada, ainda bem. Hoje tenho amigos e amigas, no tal Clube, no trabalho, na rua e na família, de que posso me orgulhar, muitos são mais jovens que eu, rs, é verdade, mas, se somos seres que abandonamos várias vezes o corpo físico para retornar posteriormente, o quê importa é a idade do espírito.
Das pessoas que estavam naquele alegre momento na montanha da Baitaca no final de semana, considero meus amigos e amigas e dou meus braços, o meu tempo e até a roupa do corpo por elas, se isso for tudo que eu tenha.
Pior que cair na trilha é cair na expressão dos amigos e conhecidos.
José Luiz
Um sócio, do tal Clube.
Infelizmente, caros leitores, não tenho, no momento, acesso diário à internet, assim os comentários podem levar algum tempo para serem postados.
Concordo com o Ricardo quando diz que o texto está enfadonho. Na verdade o assunto segurança em montanha resvala, aqui no Brasil, para situações tristemente enfadonhas e repetitivas, tolas e vulgares. Nós não temos grandes tragédias, avalanches, coisas e tal cinematográficas, apenas situações corriqueiras de desinformação, nós mal feitos, comas alcoólicas, gente perdida no mato, gente que não olha onde pisa e cai em buracos, erros tolos causados por falta de cultura de montanhismo, gente que brinca, subestima ou vulgariza os riscos de estar em uma montanha, como vemos no link que o Wilo colocou aqui como sugestão.
Mas novamente tenho que relembrar que este espaço que mantenho, às minhas próprias custas e riscos, está sempre aberto para opiniões diferentes, críticas e aprendizados. O debate de idéias, inclusive sobre assuntos polêmicos e absolutamente democrático, é o fundamento do pensamento liberal que aqui é praticado e não do conservador. Eu entendo o blog também como um espaço de transmissão de conhecimentos, como comprovam os inúmeros textos publicados e os links disponíveis e seria uma tremenda falta de humildade da minha parte se eu deixasse de mantê-lo apenas porque alguém diz algo que não me agrade. Eventualmente eu posso alertar pessoas que se comunicam comigo sobre incorreções grosseiras nas leituras dos meus textos, que prejudicam elas mesmas, mas eu sempre procuro dialogar. Na verdade é um espaço único em se tratando de internet, daí a necessidade de mantê-lo, mesmo quando ouço críticas pessoais e agressivas com forte carga de emoção como a da moça que se identificou apenas como Farofeira Vulgar, ou do seu colega de caminhada.
Cara Farofeira Vulgar, nenhum de nós está livre de um acidente. Eu próprio já me acidentei algumas vezes nas montanhas e, no mais das vezes tive de me auto resgatar. Mas também já precisei humildemente de ajuda. No mais participei do resgate de várias pessoas, algumas conhecidas, nada há de tão especial nisto tudo, embora sejam acontecimentos desagradáveis. A primeira coisa que faço quando surge uma situação de emergência é ligar um cronômetro interno. Posso aparentar estar passivo, mas não estou. Calculo quanto tempo para ir buscar uma maca, quanto tempo para ela estar de volta, quanto tempo para descer com a vítima, quanto tempo até um hospital. Olho para cima, neblina, sol, lua cheia, estimo horas ainda de luz, horas de lanterna, equipamentos disponíveis, comunicação, transporte, etc. Já houve casos, mais de um, em que apenas se sentar do lado da vítima, sobretudo conversar com ela, transmitir tranqüilidade, foi o suficiente para queimar etapas, poupar esforços e fazer um resgate tranqüilo, sem ninguém se arriscar demasiado, nem se cansar. Teve vezes que varou noite adentro, bivaques.
Grupos barulhentos, ou alegres são comuns em nossas montanhas, não há nada demais nisso, embora soe vulgar, às vezes. Mesmo os acidentes que ocorrem com estes grupos não valem muitos comentários. Mas alegria não implica necessariamente em vulgaridade.
O que torna este acidente do qual você participou, Farofeira Vulgar, digno de comentário é que ele aconteceu com membros de um clube de montanhismo que agiram de forma muito aquém da que seria de se esperar em uma situação como esta. Talvez por falta de prática, de informação, ou por tratar o acontecimento como algo vulgar. Enfim, há uma zona nebulosa aí que diz mais respeito ao comportamento das pessoas do que a mim mesmo. Algo para vocês refletirem.
Uma pessoa pode cair na montanha, mas se ela não consegue voltar sozinha para a trilha ou via de escalada, então há um descontrole. Aliás, desconfie desta frase “está tudo sob controle”, geralmente é dita quando as coisas não estão bem. Na verdade tínhamos uma situação de resgate. A leitura do passeio muda completamente. O grupo tem de agir, não apenas uma ou outra pessoa. Se o grupo inteiro não age coordenado, as pessoas agem sozinhas, as coisas podem se complicar… E, embora isto lhe pareça estranho, certa ou errada, minha não participação direta no caso de vocês tinha um valor pedagógico que extrapolou seu julgamento moral, a intenção era verificar a capacidade do grupo de se virar sozinho.
Honestamente, respondendo a você Farofeira Vulgar, eu devo confessar que se estivesse no lugar da sua amiga que se embrenhou corajosamente em busca da moça caída, frente a um monte de colegas passivos, eu teria feito a mesma coisa. Na verdade já fiz a mesma coisa no Pico Paraná em 1980, no meu primeiro resgate, que varou horas a fio e, naquela vez, o que fiz foi uma grande tolice, me atirei também no buraco, quase fiquei encalacrado e aprendi que, se eu estava em um clube, nós tínhamos que trabalhar em equipe. Foi o que acabamos afinal fazendo, uma parte do grupo, mas outra não quis, banalizou a situação pelo qual tínhamos passado e, aliás, este foi o motivo do primeiro grande “racha” que assisti neste mesmo clube do qual você participa hoje, Farofeira Vulgar.
Mas isto era em 1980, sem internet, sem celular, sem livros, sem Cosmo para nos ensinar procedimentos e o clube estava recém começando… Hoje a situação é outra, há mais informação, mais gente, mas também mais comportamentos arriscados: rapel em chapeleta, falta de uso de capacetes, uso inadequado de mosquetão de rosca forçando o eixo lateral, fita expressa em grampo P, resgates improvisados e é claro, o sempre apontado péssimo exemplo do “homem que sola” (que aliás eu concordo, é um péssimo exemplo, mas não sou perfeito). Estou falando apenas do que vi no fim de semana passado.
No caso de vocês quase tudo estava ainda a favor, os itens do cronômetro, o equipamento, até mesmo a presença discreta de alguém mais experiente por perto, se as coisas se complicassem, menos o grupo que não estava coeso, ou seja, haviam pessoas dispostas a dar até a roupa, mas não a se organizar, a aprender com a situação. Foi necessário uma pessoa somente se arriscar. Então Farofeira Vulgar mesmo tendo perdido a sua, por assim dizer, admiração por mim, eu vou correr o risco de sugerir a você algo que, dentro da velha tradição filosófica dialética, sirva de síntese a este assunto, ou seja que você propusesse uma nova (tese) leituras, minicurso, palestra, o que fosse, sobre este assunto ainda visivelmente nebuloso (segurança em montanha) no seu ambiente de clube, com uma nova rodada de reciclagem, discussão, debate (antitese) e finalmente um aprendizado (síntese). Também registrem o acidente no site segurança em montanha (vejam no Wilo). Leia o livro do Pit Schubert que eu citei. É muito bom para aprendermos a ficar alertas, embora seja de embrulhar o estômago. Poderei te emprestar se você não se sentir ofendida com esta oferta.
Há um outro livro sobre resgates (entre outros, um deles inclusive sobre bons modos na montanha!) simples e sensacional do montanhista paulista Sergio Beck, procure na internet. Ele é um excelente ilustrador e tem grande didática. Mostra situações exatamente como a que vocês viveram, até nos desenhinhos. Você vai se enxergar lá. Leia, por favor, eu te peço. Faça seus amigos lerem, discuta este assunto com eles. Para o bem de todos nós. Casos vocês façam este aprendizado eu poderei suportar melhor e mais tranqüilo o desprezo que agora você, sua melhor amiga e seus colegas sentem por mim. Agora caso vocês não se atualizem com relação a este assunto, será ruim para todos, eu por receber seus merecidos desprezos e vocês, por serem potenciais vítimas ou vitimadores de alguém em um próximo resgate improvisado e seria lamentável se esta discussão não servisse, ao menos, para poupar vocês de situações como estas. Ficarei feliz, mesmo desprezado, se vocês se tornarem melhores e mais seguras montanhistas após assimilarem estas leituras. Mais gente consciente e menos patetadas nas montanhas.
Mas se nada adiantar, bem, existe o bom e velho Cosmo no Marumbi, algum equipamento de resgate que eu ajudei a arrecadar, na base do Anhangava e do morro do Canal, pessoas que ajudam nos resgates. Os bombeiros também estão aí com um grupo de resgate novinho, o Gost. O número do Gost é o 3398 2052 (major Prestes), fica em São José dos Pinhais, próximo a Curitiba. Anote em seu celular, Farofeira Vulgar, anote agora, não deixe para depois, eu acabei de fazer isto. Se houver necessidade de resgate em um canto remoto onde você esteja, eles tem como acionar um helicóptero. Pode salvar a vida de alguém. Mas lembre-se, tudo isto leva tempo para chegar.
Finalmente, devo dizer que assim como eu admirei a coragem da sua melhor amiga em agir, mesmo precipitadamente, eu também admiro a sua em me contestar, Farofeira Vulgar, precipitadamente. As discussões referentes ao montanhismo nem sempre passam por caminhos calmos, eu entendo, às vezes há necessidade de rupturas, incompreensões, este é o sentido da tal dialética. Entretanto, eu devo dizer que para não ser deselegante, eu não vou comentar suas críticas pessoais ou de seus colegas sobre mim, pois são apenas julgamentos morais e não entraram nos aspectos éticos do assunto, que são infinitamente mais interessantes. Nas raras vezes em que eu tive a chance de conversar, de fato, com esta sua grande amiga, eu comentei que tenho muitas facetas. Pessoalmente nós dois não nos conhecemos de fato, nem nunca escalamos juntos e, portanto, eu prefiro manter este blog como espaço de discussão sobre temas relevantes para o montanhismo e não com discussões sobre mim, que sou apenas mais um modesto, porém apaixonado praticante desta atividade. Minhas estórias pessoais na montanha só são pano de fundo para discutir uma atividade muito maior do que meus pequenos feitos.
olá dubois
Com felicidade te digo que NatIvO (rsrsr) virá até Florianópolis para o curso do PAARE bem pertinente a seu post do quase acidente. Acho muito bonita sua visão de alguém introspectivo, observador, que tem algo a dizer, sempre,com uma experiência que nunca deveria ser desprezada e arrisco a dizer que não deveria nem ser contestada ou criticada. Compreendi imediatamente seu ponto de vista e entendo que é complicado quando nos expomos atraves do blog, as críticas que recebemos, mas c’et la vie…passei só para deixar um beijo, e dizer que definitivamente irei fazer meu doutorado multidisciplinar de que falamos, e preciso das dicas de inscrição rsrsrs grande beijo e boas escaladas, sempre!Ale
Compreendido Du Bois! Obrigada pela resposta!
Nunca descordaria de opiniões e sugestões suas ou de qualquer outro montanhista experiente sobre segurança em montanha! Não foi com isso que me senti ofendida!
Agradeço pelas dicas de leitura, e concordo que podemos melhorar muito e aprender a agir de forma mais eficiente em acidentes, quase acidentres e trapalhadas! rss..
Abraço!
Camila Dias dos Reis, a tal Farofeira vulgar.
Ah Dibuá, infeliz o seu texto. Deveria começar citando o nome do tal clube, o Clube Paranaense de Montanhismo e também das pessoas que estavam lá no dia.
Sobre o tal acidente que não existiu, eu estava a 5 metros e você a uns 20 pelo menos. Só há resgate quando há acidente e isso não ocorreu.
E você vem me dizer que é só sair da trilha pra ser picado por uma cobra. Quantas vezes você já foi picado?
Digo que o seu texto teve um alto valor didático pra mim. Um intelectual com larga experiência em montanha, com blog na internet (pensei que blog era coisa de adolescente), escrevendo sobre seu fim de semana. Resultado: um artigo vazio e desinteressante.
Prefira escrever sobre outros assuntos, sobre algo que realmente vale a pena.
Continuamos colegas, mas que você pisou na bola pisou!
Dubois.
>
> Sempre li e apreciei muito seu blog exatamente sobre seu
> diferencial:
> Montanhismo com conteúdo.
>
> Entretanto acho que sua interpretação, mesmo que tenha
> sido esta
> referida no texto, não justifica uma agressividade ao
> clube que tem
> tanto histório e comprometimento.
>
> Você sabe que tem muita gente que odeia o CPM, não ajude
> eles a odiar
> mais e levar mais gente para este time, pois vc sabe que o
> Clube vem
> enfrentando dificuldades com falta de socios e falta de
> gente
> comprometida, o que pode ser muito ruim para o montanhismo
> do Paraná.
>
> Embora vc tenha esta postura purista do montanhismo
> anarquico, que é
> sua natureza, vc sabe bem que sem organização não
> conseguiremos vencer
> esta queda de braço que existe com orgãos ambientais,
> proprietários de
> terras e outros problemas que impede a pratica de
> montanhismo.
>
> Hoje vivemos o problema da crise ambiental e do
> montanhismo. Muitas
> pessoas, como eu e o Antonio Paulo Faria estão enxergando
> uma
> decandência no montanhismo e na minha opinião isso vêm
> da desunião,
> então por favor não colabore com esta desunião.
>
> Um abraço,
>
> Pedro Hauck
>
> http://www.gentedemontanha.com
> http://www.pedrohauck.net
Caros colegas
Tomei a liberdade de colocar anexada uma mensagem que Pedro Hauck me enviou diretamente, pois me parece relevante para as discussões que estão aqui sendo feitas.
A tese sob a validade da atuação de grupos de montanhismo em resgates em montanhas, enveredou até um ponto nebuloso, de difícil detecção por parte da maioria, pois notem, ela tem um forte conteúdo emocional que nubla as vistas. Vejamos os contendores: de um lado os, por assim dizer, moralismos e conservadorismos de Du Bois, entrincheirado em posição favorável em seu blog pessoal, que certamente não é coisa de adolescente. Do outro as posturas igualmente moralistas e conservadoras dos demais colegas, que o atacam por todos os lados, mas com munição mais fraca. É relativamente fácil malhar o Du Bois. Ele é chato para quem não o conhece, arrogante às vezes, parece insensível ao sofrimento alheio e dos pobres clubes de montanhismo e pouco interessado em elogios. Aliás, como vocês percebem, estou neste momento ao lado de vocês também malhando o tal sujeito, o que infelizmente não resolve muito, pois por azar ele tem uma cultura que demonstra parecer vasta, um currículo respeitável em montanhismo e, desgraçadamente escreve bem, além do que não parece muito preocupado com críticas. Para nossa preocupação, Du Bois parece ter encontrado um ponto nebuloso do montanhismo, no qual todos avançamos e atolamos e que ele pretende explorar.
Embora não pareça, o que está escondido neste ponto nebuloso é de enorme relevância para vocês leitores, principalmente para os mais jovens que ainda tem uma ampla vida de montanha pela frente e uma ética ainda por desenvolver, mas é possível que devido ao caráter emocional da discussão, surgirá um artigo mais esclarecedor para que este assunto possa ser retomado de modo que algum proveito seja retirado. Na verdade, já posso adiantar, pelo que sei sobre este assunto, me parece que será um artigo surpreendente, algo perturbador. Possivelmente Du Bois consiga recuperar alguns admiradores, talvez perca outros, nunca se sabe.
Por outro lado Pedro nos apresenta uma segunda tese para discussão, que é: “críticas destroem clubes?” e que tem direta relação com o que está acontecendo, neste momento, no blog do Du Bois. Para esta discussão seria interessante a participação das pessoas que já estão postando seus comentários no blog: Ricardo, Willo, José Luiz, Alessandra, Farofeira Vulgar (que felizmente podemos chamar pelo seu nome verdadeiro que é mais bonito) e Pedro Hauck, mas também, pela relevância do assunto, dos demais leitores do blog.
Mas seria interessante prosseguir neste tipo de discussão sem as nossas simplificações típicas dos nossos pensamentos morais, para que não caímos, de novo, em outro ponto nebuloso do montanhismo, o que seria um prato cheio para o detestável Du Bois, que certamente irá se aproveitar da situação e escrever algo que nos incomode, se antes não nos dispusermos a discutir. O que vocês acham?
Há ainda uma frase misteriosa que Du Bois enviou a respeito do tal artigo em elaboração: “as luzes são a emancipação do homem da tutela a que se autocondenou” (Kant).
P.S. Du Bois avisou que conhece dois montanhistas que já foram picados por cobras e que quase já foi picado outras duas, mas que isto não aconteceu porque seu filho Tui estava mais atento que ele e avisou antes.
Du Bois e demais companheiros de Montanha
Não querendo entrar no mérito da discussão aqui criada, vejo o seguinte, acima de qualquer coisa, temos que fazer nossa parte pelas montanhas e pelo montanhismo.
Se faz por si só, ou se faz por um clube, associação, federação, não importa, o importante é fazer.
O fortalecimento dos clubes ou associações de montanhismo, passa pela união, por novas idéias, pela troca de informações, etc.
Lembro de algo que foi dito no passado: que os “pseudos escaladores”(aqueles que estavam buscando o aprimoramento técnico, livrando vias, começando a praticar a escalada móvel,etc) seriam “Tragados pelo Tempo”, tem até via no Rio com esse nome. Não foram tragados, eles abriram um novo mundo para escalada nacional. Muitos hoje tem em Chris Sharma, Dave Grahan, Dean Potter, Alex Huber, entre outros, modelos perfeitos da escalada atualmente. Mas não sabem quem é? E e o que fizeram Alexandre Portela, Bito Meyer, Sergio Tartari, José Luis Hartmann, entre outros, a lista é grande.
Voltando(viajei demais), hoje em dia na maioria dos cursos, se aprende a escalar, mas não se aprende a ir para montanha. É facil acessar várias pareders rochosas e escalar o dia inteiro e voltar pra casa. Citando um exemplo do PR, por que será que as grandes escaladas do Marumbi ainda continuam a ser pouco frequentadas? Ou a linda aventura que é escalar a Via mar de caratuvas no PP?
Para finalizar, vejo muita gente insegura na montanha(falta de técnica básica para escalar), falta no meu ver uma questão básica na escalada=PROCEDIMENTO e COMPETENCIA=Saber fazer direito e fazer bem feito desde um simples nó…até um auto-resgate, por exemplo para nao se estender muito.
Por hora era só, teria algumas dezenas de linhas para escrever, mas sobre segurança é só ler PIT SCHUBERt